Autor(es): Vicente Nunes e Ricardo Allan
Correio Braziliense - 03/03/2009
Depois de ser socorrida com US$ 150 bilhões pelo governo americano, seguradora AIG receberá mais US$ 30 bilhões. Megaprejuízos espalham pessimismo no mercado: Bovespa cai 5,1% e dólar sobe 3,04%
A crise internacional entrou numa nova fase: a dos prejuízos bilionários nas maiores empresas do mundo, indicando que o fundo do poço ainda está longe. Segundo levantamento feito pelo Correio, pelo menos 30 companhias multinacionais anunciaram, nas últimas semanas, perdas totais de US$ 383,6 bilhões em seus balanços de 2008. Somente a AIG, a maior seguradora dos Estados Unidos, contabilizou um rombo recorde de US$ 99,3 bilhões no ano passado — rombo sem precedentes na história empresarial americana — mesmo depois de receber um socorro de US$ 150 bilhões do Tesouro daquele país. Agora, receberá mais US$ 30 bilhões. “Não é à toa que o pessimismo se alastrou. Está cada vez mais claro que o mundo levará muito mais tempo para se recuperar”, disse o presidente da Consultoria Latin Link, Ruy Coutinho. O resultado foi devastador nas principais bolsas de valores de todo o mundo. Nova York terminou o dia em queda de 4,24% aos 6.762 pontos, o nível mais baixo desde 1997. Na Europa, Paris perdeu 4,48%; Londres, 5,33% (menor nível desde 2003); Frankfurt , 3,48%, e Madri, 4,60%. São Paulo não resistiu e fechou em baixa de 5,10% (leia mais ao lado). Por outro lado, devido às incertezas financeiras, a cotação do dólar disparou, subindo 3,04% e passando a valer R$ 2,44. Segundo Coutinho, os efeitos dos megaprejuízos na economia são perversos, pois minam dois dos pilares mais importantes para o crescimento econômico, a renda e o crédito. “Quando os bancos registram as perdas em seus balanços, reduzem o patrimônio. Com isso, diminuem a capacidade de emprestar tanto para o sistema produtivo quanto para os consumidores”, explicou. Ou seja, sem crédito, as empresas são obrigadas a suspender os investimentos produtivos. Esse movimento resulta em demissões. Sem trabalho, as pessoas deixam de pagar suas dívidas e os bancos se retraem ainda mais, temendo a onda de calote. Além disso, quem está empregado evita tomar empréstimos, pois as taxas de juros vão para as alturas e os prazos de pagamento encolhem. Sem torneira “Simplesmente, com esse movimento, está se anulando um canal básico para a economia funcionar”, acrescentou o economista-chefe da SLW Asset Management, Carlos Thadeu Filho. Para ele, raciocínio semelhante vale para o setor produtivo. “Ao lançar prejuízos nos seus balanços, as empresas ficam com o patrimônio menor e sem capacidade de investimentos com recursos próprios. Para se adequar ao novo tamanho, demitem”, afirmou. É por isso que todos estão dizendo que os efeitos da atual recessão econômica serão muito piores do que os das retrações verificadas nos últimos anos. “O que estamos vendo é uma queima brutal de riquezas, que levará anos para serem recompostas”, destacou. Todos à deriva Na opinião de João Carlos de Oliveira, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos Financeiros (Ibef), a disseminação de prejuízos só agravou a crise de confiança que fez travar o crédito, a produção e o consumo. “Quando a bolha imobiliária americana estourou, imaginava-se que as perdas ficariam restritas ao sistema financeiro, incluindo o segurador. Mas o que se vê agora é que a crise pegou todo mundo no contrapé”, disse. “As maiores montadoras do planeta estão falidas. Os grandes bancos estão quebrados. O setor de seguros está à deriva”, assinalou. Diante do buraco que se criou, Oliveira acredita que nem mesmo as injeções de capital que os governos estão fazendo nas empresas e nos bancos serão suficientes para reverter o quadro atual tão cedo. Para Ruy Coutinho, o reconhecimento dos prejuízos é o primeiro passo efetivo para se chegar ao fundo do poço. “Os balanços vão mostrar quanto realmente custará a crise. Mas como as perdas estão longe do fim, mais demorada e mais penosa será a recuperação da economia mundial”, afirmou. Portanto, avisou o presidente da Latin Link, será preciso ter muito estômago para aguentar os tombos que os mercados financeiros vão registrar. “Todos estão enxergando que a contração econômica será muito maior e mais prolongada”, ressaltou. Há quem aposte que o PIB mundial poderá fechar 2009 com queda superior a 2%. “A cada dia, novas revisões são feitas e sempre para pior”, emendou. Essa piora, na avaliação de Carlos Thadeu Filho, só trará mais problemas para o Brasil, que viu a produção industrial cair 14,5% apenas em dezembro do ano passado. “Pelas minhas contas, não haverá salvação. Mesmo com a queda dos juros promovidas pelo Banco Central e com as medidas de incentivo à economia dadas pelo governo, o PIB deste ano diminuirá 0,5%”, frisou. O que dá algum conforto aos analistas é o fato de as empresas e os bancos brasileiros ainda não terem aderido à onda de prejuízos. E isso aconteceu, porque, até setembro do ano passado, quando a crise explodiu, o país vinha crescendo a um ritmo muito acelerado, ao contrário da maioria das economias mais ricas do mundo, que já caminhavam para o buraco.
terça-feira, 3 de março de 2009
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